quarta-feira, 25 de maio de 2011

O mendigo e o filho do rei


Eu ia mendigando de porta em porta pelo caminho da aldeia, quando despontou ao longe uma carruagem dourada. Era a carruagem do filho do rei.
Pensei comigo mesmo: ‘É a grande chance da minha vida!’ Sentei-me e pus no chão, bem aberta, minha sacola, na esperança de ganhar generosa esmola, sem precisar nem pedi-la. Ao contrário, pensei que as riquezas iriam chover pelo chão ao meu redor.
Qual não foi porém a minha surpresa quando, chegando bem perto de mim, a carruagem parou, o filho do rei desceu e, estendendo a mão direita, me disse:
- ‘O que tens para me dar?’
Como... um rei estender a mão a um mendigo!?
Confuso, hesitante, peguei da sacola um grão de arroz, um só, o menorzinho, e ofereci ao príncipe.
Mas, que tristeza, de noitinha, mexendo na sacola, encontrei um grãozinho de ouro, um só. Chorei amargamente porque não tivera a coragem de lhe ter feito o dom de tudo”.

 Tagore apresenta um mendigo que narra a sua história. A pergunta que faço: será que posso tomá-la como exemplo da minha vida diante da grandeza de Deus? Tenho coragem de fazer dom de tudo?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Vem, Espírito Santo

Vem, Espírito Santo!
Vem, força de Deus, doçura do Senhor!
Vem, Tu que és  ao mesmo tempo movimento e repouso!
Renova nossa coragem,
enche a nossa solidão no mundo,
cria em nós a intimidade com Deus!
Não dizemos mais como profeta:
Vem dos quatro ventos,
como se ainda não soubéssemos de onde vens.
Mas dizemos:
Vem, Espírito, do lado transpassado de Cristo crucificado!
Vem dos lábios do Ressuscitado!

(Raniero Cantalamessa)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Tarde te amei

A minha consciência, Senhor, não duvida, antes tem certeza de que Te amo. Feriste-me o coração com a Tua palavra e te amei. O céu, a terra e tudo o que neles existe, dizem-me por toda a parte que Te ame. Mas que amo eu, quando Te amo? Não amo uma formosura corporal, nem uma glória passageira.

E, contudo, amo uma luz, uma voz, um perfume, um alimento, um abraço, quando amo meu Deus, luz, voz, perfume, alimento e abraço do homem interior, onde brilha para a minha alma uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não arrebata, onde se exala um perfume que o vento não esparge, onde se saboreia uma comida que a sofreguidão não diminui, onde se sente um contato que a saciedade não desfaz.

Eis o que amo, quando amo meu Deus. Mas, o que significa isso? Disse a todos os seres que me rodeiam às portas da cerne: falai-me de meu Deus, se sois vós, dizei-me ao menos alguma coisa d’Ele. E elas exclamaram com alarido: "Foi Ele quem nos criou. Não somos nós o teu Deus. Busca-O acima de nós! Dirigi-me, então, a mim mesmo; a ti, minh’alma, que certamente és superior ao teu corpo, porque o vivificas. Mas também para ti, a vida da tua vida é o teu Deus.

Que amo então quando amo o meu Deus? Quem és tu que estás acima de minh’alma? E onde habitas, ó Senhor? Pois me lembro de Ti desde o dia que Te conheci, e lá Te encontro toda vez que me lembro de Ti. Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Te amei! Eis que habitavas dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Te. Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criaste. Estavas comigo, e eu não estava contigo! Chamaste-me com uma voz tão forte que rompeste a minha surdez. Brilhaste, cintilaste e logo afugentaste a minha cegueira. Exalaste perfume: respirei-o suspirando por Ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de Ti. Tu me tocaste e ardi de desejo da Tua paz.


Santo Agostinho

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Oração da alma enamorada


Senhor Deus, amado meu!
Se ainda Te recordas dos meus pecados,
para não fazeres o que ando pedindo,
faz neles, Deus meu, a tua vontade,
pois é o que mais quero,
e exerce neles a tua bondade e misericórdia
e serás neles conhecido.
E, se esperas por obras minhas,
para, por meio delas, me concederes o que te rogo,
dá-as Tu, e opera-as Tu por mim,
assim como as penas que quiseres aceitar
e faça-se.
Mas se pelas minhas obras não esperas,
porque esperas, clementíssimo Senhor meu?
Porque tardas?
Porque, se, enfim,
há-de ser graça e misericórdia
o que em teu Filho te peço,
toma a minha insignificância,
pois a queres,
e dá-me este bem,
pois que Tu também o queres.
Quem se poderá libertar dos modos
e termos baixos
se não o levantas Tu a Ti em pureza de amor,
Deus meu?
Como se levantará a Ti o homem
gerado e criado em baixezas,
se não o levantas Tu, Senhor,
com a mão com que o fizeste?
Não me tirarás, Deus meu,
o que uma vez me deste
em teu único Filho Jesus Cristo,
em quem me deste tudo quanto quero.
Por isso folgarei pois não tardarás,
se eu espero.
Com que dilações esperas,
pois, se desde já podes amar a Deus
em teu coração?
Meus são os céus e minha é a terra;
minhas são as gentes,
os justos são meus, e meus os pecadores;
os anjos são meus
e a Mãe de Deus
e todas as coisas são minhas;
e o mesmo Deus é meu e para mim,
porque Cristo é meu e todo para mim.
Que pedes pois e buscas, alma minha?
Tudo isto é teu e tudo para ti.
Não te rebaixes
nem repares nas migalhas
que caem da mesa de teu Pai.
Sai para fora de ti e gloria-te da tua glória,
esconde-te nela e goza,
e alcançarás as petições do teu coração.
SÃO JOÃO DA CRUZ -Ditos de Luz I, 25-27

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Cantiga triste de pastoreio


Tu plantastes a juventude no canteiro do senhor, não pensaste na inquietude do irmãos mais novos do senhor, foste embora semeando e plantando ao teu redor, juventude foi murchando esperando algumas gotas de amor.

Ao voltar esperançoso pro canteiro do senhor viste um quadro doloroso, o canteiro sem nenhuma flor correu lágrimas sentidas, foste então recomeçar. o jardim voltou a vida e saíste pelo mundo a cantar.

Um jovem custa muito pouco
Um pouco de muito amor (bis)

A quem serve o mundo jovem um recado eu quero dar as palavras não resolvem, gente jovem quer amor não prossiga semeando se não voltas pra regar juventude vai mirrando quando a gente não tem tempo de amar.

Nunca voltes esperando encontrar jardins em flor, se te fostes relegando os canteiros do senhor, recomeçar com ternura o trabalho de regar nascerão mil flores puras e depois comigo podes cantar.

Pe. Zezinho

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Noite escura da alma



Em uma noite escura,
De amor em vivas ânsias inflamada,
Oh, ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já minha casa estando sossegada.


Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh, ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Já minha casa estando sossegada.


Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
Nem eu olhava coisa,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.


Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia,
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em sítio onde ninguém aparecia.


Oh, noite que me guiaste!
Oh, noite mais amável que a alvorada!
Oh, noite que juntaste
Amado com amada,
Amada já no Amado transformada!
Em meu peito florido
Que, inteiro para ele só guardava,
Quedou-se adormecido,
E eu, terna, o regalava,
E dos cedros o leque o refrescava.


Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava.


Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando meu cuidado
Por entre as açucenas olvidado.

São João da Cruz